Ser Repórter é...

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domingo, 11 de julho de 2010

Quando a vida é apenas um suspiro

Por Martha Bernardo

Pelo pouco tempo que tenho no mudo da reportagem eu achava que não tinha nenhuma grande história para contar aqui no blog, mas isso mudou completamente no dia 20.06.2010. Domingo, dia de jogo da Seleção Brasileira, ruas de Manaus em uma tranquilidade assustadora e eu na redação do Jornal Amazonas Em Tempo. Quando sai de casa não imaginei que o meu domingo seria marcado por uma dura constatação: A vida é apenas um suspiro!

Cheguei ao jornal às 14h, mas logo descobri que não precisava estar lá tão cedo, afinal os editores com absoluta certeza só chegariam depois do jogo e eu teria que ficar ali tentando achar uma pauta interessante para fazer, mesmo que isso fosse impossível, afinal nada é mais interessante em dia de jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, do que o jogo da Seleção Brasileira na Copa do Mundo e essa pauta a colega que chegou mais cedo já havia pego.

Depois de folhear os jornais, de perder um pouco de tempo no twitter e de resmungar pelo fato de estar trabalhando em um domingo, resolvi iniciar a tão famosa RONDA. Detesto fazer ronda, sempre detestei, desde a minha época de estagiária da Rádio e TV A Crítica, mas já que estava ali a RONDA era a única coisa decente que eu poderia tentar. Logo percebi que essa tinha sido uma péssima ideia, afinal quem é que vai querer falar com uma repórter chata bem na hora do jogo?

Enfim, nada consegui durante duas horas. Por volta das 16h30 me preparava para retomar a minha Via Crúcis da RONDA pós-jogo, quando o telefone da redação tocou. Era o produtor da TV Em Tempo perguntando se nós estávamos sabendo de um homicídio que acabará de ocorrer. Ele me passou as informações que conseguiu no IML e disse que se eu fosse rápida ainda encontraria o corpo no local. Juro que pensei: “Uau! Minha tarde está salva”, para logo em seguida pensar: “Deve ter sido mais uma morte causada pelo excesso de álcool. Esse povo sai de casa para arrumar confusão e se dá mal”.

Peguei meu bloquinho, caneta e crachá e junto com o fotógrafo segui para o endereço na Avenida Darcy Vargas com a Constantino Nery, segundo o IML. Nunca tinha feito nada parecido, todas as vezes que fiquei na ronda policial só havia feito aquelas ocorrências em que você vai até a delegacia e pega as informações no livro de ocorrência ou no máximo com o escrivão. Quando chegamos percebi que provavelmente não se tratava de uma briga pós-jogo, afinal o fato tinha acontecido em um posto de gasolina que fica entre as duas avenidas.

Desci do carro e me aproximei Polícia Militar e o IML já estavam no local. Muitos curiosos também se aglomeravam para ver o morto. Quando cheguei mais perto notei que, ao contrário do que eu imaginava não se tratava de mais um desocupado, bêbado, que resolveu dar uma de valentão e acabou morto. Na verdade a vítima em questão era o segurança do posto de gasolina, um simples segurança, assalariado, que estava apenas trabalhando no lugar errado, na hora errada.

Naquele momento só consegui ter vontade de chorar e pensar na família daquele rapaz, que provavelmente saiu de casa para trabalhar sem imaginar o que lhe aguardava. Mas eu precisava cumprir o meu dever de jornalista, então segurei o choro e fui atrás das testemunhas e policiais. No final descobri que a vítima se chamava Sidney, tinha 36 anos e que havia sido morto após reagir a um assalto.

Cerca de 30 minutos depois, missão cumprida. Retornamos para a redação, mas durante o trajeto voltei a pensar na vítima e em como a vida é frágil e imprevisível. Em uma hora você está vivo e no instante seguinte já não está mais. Tudo o que eu queria naquele momento era chegar a minha casa e abraçar minha mãe, algo que a mãe, os irmão, a esposa, os filhos, os amigos do Sidney não poderão fazer mais.

Mais que uma experiência profissional, esse meu début no mundo policial foi a confirmação do que eu já sabia. Nós precisamos valorizar cada momento de vida que temos, sejam eles sozinhos ou de preferência ao lado daqueles que amamos, deixando de lado vaidades, egoísmo e orgulho, que só nos levam a uma existência vazia e triste.

TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER

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