Ser Repórter é...

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domingo, 11 de julho de 2010

A saga de um pequeno texto

Por Rafael Nobre

O repórter de jornal impresso ama o seu texto com todas as forças. Gosta mais do texto que está escrevendo hoje e certamente deixará de lado amanhã que da pessoa com quem ele juntou as escovas de dente. Essa paixão vai além do quanto ele gosta de viajar a trabalho com o jornal pagando tudo do almoço free no restaurante legal que o entrevistado convidou. Isso já era de se esperar, afinal ele viu o texto nascer quando era apenas uma pequena pauta que o editor passou com certo desdém.

Quando o repórter recebe, pela manhã, a pauta e a grande explicação do editor sobre a expectativa dele em relação à futura matéria e suas possíveis abordagens, a mente do repórter já começa a maquinar o que ele fará para atingir as expectativas do chefe.

Quase sempre começa assim. O repórter senta na sua cadeira com uma rodinha quebrada impedindo o breve deslizar para fora da sua mesa e verifica o e-mail pessoal, e-mail do jornal, Twitter, sites de notícias, enfim, qualquer coisa que ajude a começar a matéria ou pelo menos garanta uma pauta melhor que aquela proposta.

Depois de responder todos os e-mails e verificar a sua time-line o repórter começa a ligar para as fontes já um pouco mais feliz pela possibilidade fazer a matéria a partir da redação. Não é que o repórter de impresso seja preguiçoso, mas a logística enxuta da maioria dos veículos de comunicação tem poucos motoristas e menos fotógrafos ainda, o que atrasa muito o trabalho do repórter. Fazer a matéria por telefone é uma chance de terminar o expediente antes do escurecer.

Tudo captado. É hora de começar a escrever porque em algumas horas o repórter precisa sair para almoçar e ao retornar, no início da tarde, o editor estará cobrando algum resultado.

Quando o repórter termina a matéria, lê uma, duas, três, quatro vezes para não deixar nenhum erro de digitação ou percentual calculado errado. O repórter olha para a tela empoeirada do monitor todo orgulhoso da sua criação – não é só o repórter foca que fica assim, todos ficam admirando seu texto por um minuto depois de concluí-lo, apenas não admitem isso. E finalmente o texto é liberado para edição.O editor pega a matéria e como um juiz tem o poder de absolver ou condenar o texto. Para não perder a pose de inteligente e dizer que seu conhecimento está acima da média dos repórteres e ao mesmo tempo fazer jus ao cargo que ocupa, o editor pede para o lead “entrar rasgando, com a informação crua direto na veia” ou simplesmente diz que o parágrafo final precisar ser refeito para “amarrar mais” a matéria. O repórter faz as alterações e se despede do texto para vê-lo no dia seguinte publicado no jornal.

Esse é final feliz da saga do pequeno texto que cresceu e tornou-se uma bela matéria. O final triste seria o editor usar o backspace mais do que deveria e cortar metade da produção intelectual do pobre repórter, desfigurando a texto e colocando o aglomerado de palavras restante em outra matéria para servir de coordenada. Isto quando não vira uma nota para ajudar a fechar a página.

TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER

3 comentários:

  1. Escrever é algo grandioso, pois não são simplesmente dispor palavras em um textos. Cada uma dessas palavras tem que ser cuidadosamente encaixada de forma que o leitor tenha mais prazer em ler e isso é um Dom. Parabenizo você Rafael Nobre, por suas sábias palavras ao descrever o trabalho envolvido na produção de uma matéria e mas, nos contar como se passa esse processo pela ótica do reporter.

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  2. Legal demais esse texto...Parabéns..Todo bom repórter pensa parecido...

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