Ser Repórter é...

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Cego e surdo? Não creio...

Por Natália Lucas

Dizem que jornalista tem direito a dois feriados no ano: natal e ano
novo. Mentira. É um só. Temos que escolher um dos dois. Eu sempre
prefiro trabalhar no Natal, por sinal é o dia do meu aniversário. Você
deve tá dizendo: “olha que legal”! Não, não é legal!

Mas vamos ao que interessa: mico ao vivo em pleno reveilon. Jornalista
mais foca do que eu naquele tempo não devia ter. Comecei a trabalhar
na área com 20 anos. Minha primeira experiência foi no Portal
Amazônia. De lá sai para trabalhar no Amazon Sat, empresa do mesmo
grupo. Trabalho totalmente diferente já que eu ia ser apresentadora e
repórter.

Comecei em abril de 2008 com um programa próprio, no entanto, gravado.
Oito meses depois recebo a escala do final de ano e lá estou eu na
transmissão do Reveilon na praia da Ponta Negra. Não foi o meu
primeiro ao vivo. Depois, em outro post, eu conto a história do
primeiro vivo na apresentação de um jornal.

O mais desesperador é que eu seria a repórter âncora da transmissão,
ou seja, teria que fazer várias entradas ao vivo, com as principais
atrações da noite e ainda segurar todo o vivo. O pior ainda estava por
vim.

Fazer vivo não é nada fácil. Você tem que ter uma bagagem de
informação extensa e falar, falar, falar... Nada de falar besteiras e
ficar repetindo as mesmas palavras. Vocabulário é tu-do!

Entrevistei o zezinho correia que, claro, cantou: “bate forte o
tambor. eu quero tique-tique, tique-tique tá...”

Pra mim a entrevista mais esperada da noite era com o levantador de
toadas do garantido, na época, David Assayag. Eu sou garantido! “Da
baixa do São José”... Fiquei ansiosa e repassei diversas vezes o texto
e as perguntas pra fazer ao David. Regra 1 de um ao vivo em eventos
barulhentos: faça perguntas curtas e o mais próximo possível do ouvido
do entrevistado. Se não fizer isso ele vai ficar no vácuo e você
também. Claro, se ele não estiver usando o retorno.

Na hora de entrar com ele ao vivo recebo as coordenadas do diretor de
TV, que tá sempre berrando no teu ouvido: um minuto... segura... daqui
a dois minutos... deu problema... segura o entrevistado... atenção...
vai...

Aí eu fui. Fiz a entrada falando da festa e dizendo que já estávamos
perto da meia noite e quem ia comandar a festa na queimada dos fogos
era ele: David Assayag. Na hora de fazer a primeira pergunta ele não
ouviu. Primeiro porque eu falei baixo e segundo porque ele é alto
(pelo menos pra mim) e eu não alcancei o ouvido dele. Parado e calado
ele estava. Calado e parado ele ficou. Fiquei nervosa com o microfone
direcionado pra boca dele e ele nada de responder. O diretor e a
equipe da cabine, ao invés de me ajudar, tiraram foi uma onda e
gritaram no meu ouvido: “não sabia que ele era surdo não”?

Sim, o nervosismo me fez pensar, por questões de segundos, que ele era
surdo. Oh, god! Cego e surdo... Segundo depois eu reagi e refiz a
pergunta gritando no ouvido do David. Dessa vez ele respondeu e foi um
alívio pra mim.

O resultado disso tudo foi que a galera na redação tirou maior onda
comigo. Fizeram até um vídeo com uma edição bem zoada da minha cara.
Eu fazendo a pergunta e um relógio enorme na tela que dava a noção do
tempo que levou pra eu repetir a pergunta e o David responder.

Depois disso ainda tive que segurar 15 minutos de vivo na hora da
queima dos fogos. Foi o sufoco da minha vida!!! Eu falava dos fogos,
dos cantores no palco, do povo na praia, na arquibancada, do povo nos
prédios, da iluminação da orla, dos barcos e lanchas no rio, do céu
iluminado, das ‘ondinhas’ que o povo pulava na praia e disso, daquilo
e daquilo outro e já não tinha mais o que falar... Nossa mãe! Depois
de tanto falar e falar a frase Praia da Ponta Negra já tinha virado
“Palaia da Ponta Negra”. Quando fui assistir ao vídeo, na redação,
percebi que praia tinha saído, algumas vezes, como palaia.

Caros amigos essa foi uma experiência que não esqueço. Valeu muito
para aprender. Não posso deixar de ressaltar que nessa hora a minha
amiga Renata Felix, também jornalista, me salvou. No meu ouvido ela ia
me orientando a falar isso e aquilo. A chamar a atenção do
telespectador para imagens que ela via dentro da cabine e eu não.
Mandou bem e me salvou de falar besteiras.


TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER

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