Ser Repórter é...

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sábado, 19 de junho de 2010

Todo baixinho é encrenqueiro?

Por Mariane Cruz

Há um ditado popular que diz que todo baixinho é encrenqueiro. Eu tenho 1,57m de altura. Sou baixinha e me considero uma encrenqueira. Aprendi a não levar desaforo para casa. Na profissão, o que não posso levar é dúvida para o leitor e é isso o que procuro: esclarecimentos.

Como repórter de Polícia, as notícias, às vezes, parecem iguais todos os dias. Numa dessas andanças, encontrei a história de um preso na Delegacia de Homicídios. O delegado da época –não vou citar nome, afinal ele nem é mais delegado – relatou a história que o rapaz era suspeito de matar uma pessoa.

No entanto, ele não havia sido preso em flagrante e nem por força de um mandado judicial. Lembrei que um cidadão só é passível de prisão nessas duas condições e questionei: essa prisão não é ilegal, doutor? Como resposta, ele disse que pediria a prisão do homem à Justiça no dia seguinte. Esta poderia conceder ou não. Fui embora.

Confirmei minha suspeita com o Ministério Público Estadual, que foi à delegacia averiguar a veracidade da informação. Nem preciso dizer que o delegado ficou “feliz da vida” comigo.

No dia seguinte, na ronda de rotina, fui recebida friamente pelo delegado. Ele estava “dispensando” o preso. Disse que o Diário – veículo no qual eu trabalhava na época – soltava bandidos. Isso na frente do indivíduo, que deveria estar me amando. Eu respondi: “se o senhor fizesse seu trabalho direito, isso não estaria acontecendo” . Não sei de onde tirei coragem pra falar aquilo. Ele não quis me dar informação e fui buscar com outra fonte.

Confesso que fiquei nervosa na hora, mas fingi ser a mulher mais forte do mundo. Cheguei no carro para seguir em frente, liguei pro meu editor – na época, Mário Freire – e desabei, com medo que o delegado fizesse alguma coisa contra mim. Ele me acalmou e disse pra eu escrever a história, que ela seria publicada no dia seguinte. Tive receio de causar mais encrenca, mas obedeci.

No dia seguinte, me tiraram da ronda policial. Não encontrei mais esse delegado. Ele foi para outra instituição do Estado. Colegas repórteres diziam que ele ficou ‘fulo’ da vida. Se queixava sempre que podia, afinal o trabalho dele havia sido questionado não só por mim, mas pelo MPE. Acho que era o que mais lhe doía.

TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER

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