Por Mariane Cruz
Eu era foca, em 2004, no Diário do Amazonas. Depois de alguns meses na redação, um colega – que assumiu um cargo de chefia – disse: você tem perfil de repórter de polícia. Até hoje não sei que perfil é esse, mas não é que eu gostei da editoria?
Numa das rondas (ligações e visitas às delegacias), descobri o caso de um menino de oito anos (acho que essa era a idade dele) acusado de homicídio. O caso havia acontecido no ramal Cristo Rei, bairro Tarumã. Fui até lá para saber o que, de fato, havia ocorrido.
Encontrei familiares do garoto em volta de um caixão que estava em cima de uma mesa. Tratava-se de uma família muito humilde. Nas comunidades rurais do Amazonas é comum a presença de espingardas. Essa foi a arma do crime.
Era hora do almoço. A mãe pediu que o filho buscasse farinha no quarto. O mantimento estava guardado dentro do guarda-roupa, perto da espingarda. Curioso, o garoto esqueceu a farinha e só teve olhos para a arma. Pegou-a na mão e passou a brincar com o objeto.
Percebendo a demora, a mãe chamou pelo filho. Entretido, ele não deu atenção. Foi quando ela resolveu ir até o quarto para saber o que estava acontecendo. Quando chamou pelo nome do filho, recebeu um tiro como resposta. O susto o fez disparar acidentalmente. A bala transfixou a cabeça da mulher, que morreu na hora.
Depois daí, a família preferiu evitar que o menino visse a mãe. Ele só falava: matei minha mãe!
No dia seguinte, a delegada de proteção à criança e ao adolescente, na época, doutora Graça Silva, foi ate à casa da família prestar atendimento ao menino. Era a primeira vez que ele veria a mãe morta, dentro do caixão.
Ele era menor que a altura da mesa. Lembro bem que colocou as mãozinhas nas beiradas do caixão e chamou: mãe... mãe... e, já sem forças, passou a chorar copiosamente.
Até hoje me comovo com essa história. Não lembro o nome dessa criança. Não sei o que aconteceu com ele, mas espero que ele tenha se perdoado pelo acidente que causou. Infelizmente, estamos sujeitos a isso.
TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER
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Mariane, infelizmente quem já fez polícia um dia, guarda inevitavelmente histórias tristes como essa. só tem uma coisa que eu não sinto falta que é cobrir velório. acho que não existe nada pior no jornalismo.
ResponderExcluirMeninas o blog tá muito bom. parabéns. qualquer dia mando uma historinha.
Eric Gamboa
Parabéns mesmo!Muito enriquecedor para quem não tem esta oportunidade de vivenciar estas histórias, para os estudantes tb , bacana...Muita prosperidade para vcs!
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