Ser Repórter é...

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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Espreme que sai sangue (da calça jeans)

Por Maria Fernanda Souza


Muitos dos jovens jornalistas, quando iniciam na redação, são logo convocados para trabalhar em duas “cruéis” editorias: Cidades ou Polícia. Comigo não foi diferente. Aos 22 anos, cheia de energia para encarar um jornal diário, fui praticamente obrigada a cobrir ronda policial. No começo, eu odiava. Depois me acostumei. Confesso que, com o tempo, cheguei a gostar do negócio.

Durante os quase cinco que cobri Polícia, vi de tudo: corpo no chão, policiais truculentos, delegados tarados, advogados encrenqueiros e bandidos carismáticos. Vivi muitas “aventuras” durante esse período, com perseguições policiais, tiroteios, desarticulação de operações, e muito, mas muito sangue.

Em um dia qualquer de 2008, tive que cobrir um triplo homicídio, que aconteceu em uma casa no bairro Petrópolis, na Zona Sul de Manaus. Três rapazes foram assassinados a tiros, durante a madrugada. Pela manhã, lá estava eu, com meu uniforme diário: camiseta (geralmente de banda de rock), calça jeans e tênis. E meu inseparável bloquinho, claro.

Depois de conversar com alguns vizinhos, entrei na casa, onde os policiais faziam perícia. O local estava bastante escuro e o cheiro de sangue coagulado fazia meu estômago chacoalhar mais que ônibus lotado indo pra Zona Leste em horário de pico. Com mais vontade de vomitar que não sei o que, acabei escorregando. Caí de bunda na frente dos policiais da Delegacia de Homicídios.

Tateei o chão e senti uma gosma. “Policial, o que é isso?”, questionei, com uma careta. “É sangue”, disse ele, com naturalidade. Levantei e saí da casa. O motorista do jornal, que me aguardava na frente do local, chorava de tanto rir. Tive que agüentar a gozação até chegar em casa, onde ele me levou para trocar de roupa. E claro, nunca mais usei aquele tênis com a sola gasta.


TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER

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