Ser Repórter é...

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Fé não se descreve, só se sente...

Por Carlos Eduardo Matos ( @CaduNews )

Na adolescencia, fui estivador de um supermercado. O estabelecimento era do meu pai. Sim, o cara era foda. Não havia regalias. Aos 14 anos, eu já carregava dianteiros bovinos nas costas. Desossava quartos de boi e tudo mais. Na época, também era lutador de judô. E advinha quem era meu mestre? Porrada dentro e fora do trabalho. O fato de ser filho do dono de um supermercado não significava conforto, dinheiro no bolso, não.
Passei a sofrer com dores no lombar. Chorava de dor. Fisioterapias, chás, massagens. Nada resolvia. Até que alguém disse para eu procurar um neurologiasta. Aos 22 anos (já era repórter), descobri que tinha uma hérnia de disco bem grande, inflamada, mais parecia uma hérnia de vinil. Já havia passado pelo Em Tempo, fui estagiário do Diário do Amazonas (na época que ele era vermelho) e estava na TV A Crítica. Como hérnia não surge do nada, creio que foi algum excesso de força durante o trabalho ou no esporte que resultou num trauma na medula.

O médico condenou. Disse que a operação seria a única saída, mas havia 70% de chances de dar errado. Se não fizesse, poderia ir pra cadeira de rodas.
Ah...não contei que sou espírita. Minha mãe havia descoberto um hospital espírita em Manaus, chamado "Sagrado Coração de Jesus", no bairro Planalto. Se a medicina dos homens não dava jeito, a solução seria recorrer à fé - medicina espiritual baseia-se nela.

Dona Ida, a médium que trabalha com o apoio de uma equipe médica espiritual, disse: "Olha, seu quadro é muito ruim. Você tem duas hérnias de disco, inflamação no nervo ciático e, pra piorar, o seu estresse é muito grande. Você trabalha com o quê?", perguntou. "Sou repórter", disse. Não era formado pra dizer que era jornalista. "Vixi, meu filho, você tem que dar um jeito na sua vida!!!". Comecei a rir. "Seu quadro de estresse é perturbador! Como é que vc vai querer se curar?". "A solução é cirurgia. Você esteja aqui no dia tal, hotário tal, vista-se totalmente de branco e traga uma garrafa de vidro com água mineral. Venha em prece".

O relato que faço agora é de um repórter, que se submeteu a um procedimento atípico o qual nem todos acreditam.

Pra minha surpresa., o chefe de RH da TV, o Chiquinho, acreditou na minha história e deu 15 dias de licença. O Álvaro Corado, meu chefe na época, também acreditou e concedeu a liberação. Contei a verdade. O que diria pra eles? Eles só pediram um atestado qualquer.

Chegou o dia da cirurgia. Eram 17h30. O horário de entrada era 18h. Havia muitas no pátio do hospital. Crianças, jovens, idosos...gente de toda parte de Manaus e até do interior em busca de cura. Problemas cardíacos, ortopédicos, neurológicos, até câncer. Todos ali de branco, com a garrafa d'água nas mãos.
Antes do procedimento, cada paciente banha-se com água misturada com alfazema. "Sr. Carlos Eduardo? Por favor, deite-se de costas. Agora, fique em prece", disse uma das monitoras. Depois, cobriu-me com um lençol.
O hospital tinha um aspecto antigo, mas limpo, refrigerado. No salão, dezenas de camas com lençóis brancos, logo ocupadas pelos pacientes, preenchiam o espaço. Ao fundo, uma mesa para reunir todas as garrafas d'água, cada uma etiquetada com o nome da pessoa que a trouxe. No centro, a imagem de Jesus Cristo. Num certo horário, depois que todos estavam acomodados, a luz ambiente diminuia, uma música relaxante ecoava baixinho. Entrei em prece. Pedi a Deus que se fosse do meu merecimento, sairia dali com alguma melhora. Hérnia não tem cura, apenas soluções paliativas e cuidados com o peso, o que não estou tendo no momento.

Tentava manter a cabeça vazia, deixando entrar somente a música. Me mantinha em prece.
Apesar do relaxamento, estava atento a tudo à minha volta. Dona Ida entrou no salão acompanhada de assistentes. Uma prece para pedir a permissão de Deus para mais um dia de trabalho por ali.

Gente, não sei explicar, mas no momento que Dona Ida e sua equipe caminhava de leito em leito, senti um sono incontrolável. A música ambiente entrou no meu pensamento e comecei a viajar. Dona Ida falava baixinho com a equipe. Minha inquietude na cama, deitado inocomodamente de costas, havia cessado de vez. Tentava mexer os dedos, mas não conseguia. Tentava abrir os olhos e ver o que estava acontecendo. Eles não me obedeciam e permaneciam fechados.
Chega a minha vez. Dona Ida toca direto na inflamação no lombar. Os movimentos com os dedos eram circulares. Foram uns dois minutos. Senti um pouco de dor, mas logo apaguei de novo. Daí não lembro mais de nada. Uma prece novamente para agradecer pelo trabalho e encerrar a atividade. Acendem as luzes.
Acreditem: só consegui levantar da cama com a ajuda da minha mãe. Perguntei: "Cheguei aqui caminhando com as próprias pernas e agora estou sendo carregado. Por quê?". Dona Ida responde: "Foi feito um corte dentro e fora da região inflamada. Há parafusos' implantados. Você foi sedado e sentirá dor assim que a anestesia passar. Fique em casa por uns 15 dias sem sair da cama. Você foi submetido a uma cirurgia. Só não está vendo o corte, mas ele está aí".

Graças a esta cirurgia, estou de pé. Só quando estou muito estressado, ocorrem algumas crises e preciso ficar deitado e tomando paracetamol.

Ficou pra mim a lição de fé, uma coisa abstrata que nem todos os repórteres conseguem ver ou sentir porque é impossível descrever. Não é objetivo. "É a fé, essa coisa poderosa, que nasce do teu acreditar...que torna concreto o que já era real", diz o poeta.

TODOS OS TEXTOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO COINCIDINDO, NECESSARIAMENTE, COM O PONTO DE VISTA DA EQUPE VIDA DE REPÓRTER

Um comentário:

  1. Prezado Carlos , emocionante sua história, estou passando pela mesma situação , mas com um problema cardíaco, espero ser curado. Felicidades pra vc. Ronney

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